sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O ciclo do vício


Mais uma vez
Eu vejo a lua, que já não é minguante
Atravessar o céu de ponta a ponta
A carne trêmula
E os olhos que teimam em se manterem abertos
Mesmo que entorpecidos
Mais uma vez
Pela espera da resposta para os conflitos do mundo
Ou, pelo menos, da celeuma da minha existência
Preciso de um chá, de um pouco de paz
Que me faça dormir, esquecer
Desse maldito “mais uma vez”
Que me corrói, me degenera,
Feito o verme que come a carne morta,
E eu aqui...
Talvez à espera de mais uma mentira
Que me faça fechar os olhos
Até o próximo....
....mais uma vez

sábado, 13 de julho de 2013

Estranho demais... Sabe o Kafka? A Metamorfose? Comigo foi o contrário... Acordei e descobri que era gente... Cansei de ter "sangue de barata"...

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Não sei

Quando nem mesmo o choro,
Já estagnado na garganta,
Quando a voz nem embarga, nem comove,
Um filme que passa na mente
Estado de transe
Qualquer coisa que não se pode explicar
Sentimento embalsamado não, mumificado
Já não se pode mudar a trajetória, o que resta é a colisão
O confronto de um de um sentimento que outrora foi sublime
Que agora só parece um quadro de natureza morta.
Resta o confronto com uma realidade comum
O Cotidiano
O supérfluo e superficial
O sempre comum
O que todo mundo já sabia
Menos eu

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Opiniões...


Tenho a impressão de que um grande problema assola a humanidade e é responsável por todos os outros problemas que nós, seres humanos, temos que enfrentar: A preocupação com a opinião alheia. Claro que uma das nossas principais características é ser dependente da convivência com outras pessoas, é precisar viver em grupo para se sentir aceito. Mas as coisas tomaram proporção preocupante. Simplesmente estamos deixando de viver por causa dos outros. Sinto-me profundamente preocupada com isso... Pois estou, a cada dia que passa, mais ligada a opinião dos outros, sempre ditando como devo me vestir, me comportar, me alimentar, viver... Definitivamente isso não está me fazendo bem! Nunca fui um padrão, quem me conhece, sabe disso. Nunca me importei com esse fato. Mas ultimamente tenho vivido graves conflitos internos que estão me fazendo pensar deferente. As pessoas estão tão iguais... Ser diferente parece ser um defeito incomensurável! Ainda bem que, pelo menos, ainda tenho consciência de que não devo me entregar às opiniões alheias. Tenho apenas que aprender a ser mais “enérgica” com as pessoas. Tenho que aprender a mandar algumas pessoas se f****** de vez em quando... Tenho certeza que quando eu criar coragem para isso, todos estes conflitos assoladores desaparecerão como um piscar de olhos!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Os bombons de licor



"Te amo como as begônias tarântulas amam seus congêneres,
como as serpentes se amam enroscadas lentas
algumas muito verdes outras escuras,
a cruz na testa lerdas prenhes, dessa agudez que me rodeia,
te amo ainda que isso te fulmine
ou que um soco na minha cara
me faça menos osso e mais verdade."
Hilda Hilst

Ela acordou como num dia qualquer, tomou seu banho, separou um belo vestido preto, como se quisesse vestir luto. Arrumou impecavelmente seus cabelos, maquiou-se perfeitamente, tudo com o maior cuidado, com a maior calma. Ao sair de casa, beijou sua mãe e sua filha, mas nada a fazia temer em sua própria consciência. Ao sair pela porta de casa, seu gato, jogou-se aos seus pés, como se tivesse a intenção de fazê-la ficar. Ela o pegou no colo, o acariciou por alguns segundo, e depois seguiu em frente. O olhar perdido parecia mostrar ausência de qualquer sentimento. Pegou um ônibus, no caminho continuava quieta, imóvel e emblemática. Ao chegar a seu destino, parou em uma loja de chocolates, comprou uns bombons de licor, pois já havia tempos que ela não provara alguns. Seguiu para um mercado, comprou uma garrafa de conhaque, a bebida mais forte que lá havia. Novamente seguiu em frente em direção ao ponto de ônibus. Ia para um lugar qualquer, já não sabia mais seu rumo. Abriu o embrulho com os bombons e os saboreou como se fosse a ultima vez. Retirou de sua bolsa uma caixa de tranquilizantes e tomou todos de uma só vez. Abriu a garrafa de conhaque e bebeu para ajudar a engolir os remédios. E continuou enigmática. Parada, talvez reflexiva... Mas quem vai saber realmente? Talvez estivesse pensando em como imaginou que sua vida seria aos 24, ou talvez nos sonhos de criança, nos quais pensava ser médica. Ou mesmo nos planos de uma adolescente que quase se tornou piloto de caça das forças armadas. Ou quem sabe simplesmente no plano de ter dado certo, de ter feito certo, de ter escolhido certo, ou ao menos de não ter errado tanto, de ter feito sua vida tomar um rumo sem volta, um abismo sem fim. Talvez um erro a mais ou um a menos já não fizesse diferença em sua mente naquele momento... Mas quem vai saber do que ela verdadeiramente pensava?

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Chega

Chega de falar de orgulho
Eu quero ver se tem coragem
De dizer que está errado
Mesmo com a razão do lado
Chega de papo furado
Já não é tempo de não dizer
Deixar pra fazer amanhã
O que já tinha que ter sido feito
Chega de falar de amor próprio
Pois muitas vezes ele está
Tão perto e tão longe
Justamente no amor alheio

Cansei

Cansei... Cansei de ficar me preocupando se estou agindo certo ou errado, se vou magoar alguém, ou simplesmente o que as pessoas vão pensar de mim. Tenho a nítida sensação de que ninguém tem a mesma preocupação comigo. Já faz algum tempo que me sinto verdadeiramente um zero a esquerda, pessoa incapaz de ter voz ativa em uma situação. Com o passar dos anos, fui me anulando, aceitando, me adaptando, perdendo a minha capacidade de persuasão. Fui deixando de ser eu. Quem realmente me conhece, sabe que uma das minhas principais características é realmente a teimosia. Pois é, fui deixando até de teimar... Isso definitivamente não me fez bem. Mas agora estou disposta a me regenerar, vou voltar a me comportar como antes, mas ainda não sei como. Ser submissa às situações não me fez bem. Não consigo me olhar no espelho e me reconhecer. Essa crise de identidade está acabando comigo. Parei no tempo. Deixei a influencia das pessoas, falar mais alto do que eu. Deixei que os comentários acabassem com a minha auto-estima. Acreditei que certos conselhos (maléficos) estavam me fazendo bem. Mas hoje percebo que não. O tempo está passando, minha juventude está indo embora, e o que eu me tornei? Realmente não sei responder.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Olhe para você!


“Porque eu fazia do amor um cálculo
matemático errado: pensava que, somando as
compreensões, eu amava. Não sabia
que, somando as incompreensões, é que se
ama de verdade.” Clarice Lispector




A cada dia que passa, fico mais perdida. Vejo o comportamento das pessoas, ouço histórias, vejo determinados acontecimentos e já não sei mais o que pensar. Por que as pessoas sempre culpam as outras por suas frustrações? Por que é tão difícil admitir estar errado? Parece que a falta de compreensão, de humanidade, é um mal que enfrentamos, desde os primórdios da humanidade, mas que na contemporaneidade tem tomado uma força extrema. Alguns se julgam tão perfeitos, tão bons que se tornam incapazes de baixar a guarda para os outros. Completo erro. Cada vez que presencio uma situação como essa, a vontade que me dá é de segurar o indivíduo pelos braços e sacudir com toda força, dizendo: Acorda!!! Olha o que você está deixando escapar entre os dedos!!!  Será tão difícil assim olhar para o próprio umbigo? Será que é impossível refletir sobre sua própria conduta? Será tão difícil admitir estar errado? Que é passível de falhas, que é humano, incompleto, imperfeito? É preciso urgentemente que as pessoas admitam suas fraquezas e reconheçam os seus erros. Às vezes podemos jogar pela janela oportunidades únicas em nossas vidas somente porque não temos maturidade suficiente para admitir que também erramos, ou melhor, para reconhecer que a razão nem sempre está conosco. É absolutamente decepcionante me deparo com alguém que se comporta desta maneira. Pois certamente, num futuro, talvez nem tão próximo, estes queridinhos consigam enxergar as pessoas maravilhosas que passaram por suas vidas e que deixaram ir embora, simplesmente pela incapacidade de reconhecer suas próprias falhas. E quando este dia chegar, certamente não haverá mais tempo de voltar atrás.

terça-feira, 13 de março de 2012

Mais um jogo





Não quero um gostar desse jeito
Viver por um fio é concorrência
Olham-se os erros, julgam-se as falhas
Joga-se um jogo e quem perde
Perde o amor e a vez
Não quero cumplicidade comprada
Não quero um viver de aparência
Nem um beijo sem olhos
Ou mesmo um falso aceitar
Vive por um fio não dá
Sou muito anseio pra pouco espaço
Sou péssimo jogador
Azar no jogo, sorte no amor?

quinta-feira, 8 de março de 2012

A louça


“Eu fui um dia rainha
e o meu reino se estendia
do quarto até a cozinha,
mas depois foi restringido:
em vez de amante, o marido,
em vez de gozos, extratos.
Agora nem isso tenho
Apenas restam-me os pratos.”
Leila Míccolis

O relógio já apontava 02:55h, o telefone dele estava fora de área. Ela colocou uma música clássica pra relaxar, ouvia o tradicional Nocturne de Fréderic Chopin. Fez um chá de camomila com passiflora para tentar se acalmar. Ela já estava acostumada com seus atrasos, mas dessa vez já estava demasiadamente tarde, não sabia o que fazer... Esse homem fora a pessoa a qual escolheu para viver o resto de seus dias, amando-o e respeitando-o, jamais pensou diferente. A casa estava limpa e arrumada, com cheiro de lavanda. Olhou e averiguou mais uma vez para saber se tudo estava no lugar, pois ele sempre exigiu organização.
O jantar já estava frio, tinha feito a mesma receita de toda sexta-feira: Macarrão à bolonhesa. Esquentou novamente na esperança dele chegar a qualquer momento. Olhou pela janela de seu apartamento antigo de um bairro do subúrbio do Rio. Já não havia mais ninguém na rua, pois já era madrugada. O céu estava cinza, parecia que ia chover. Enfim, o carro dele apontou no final da rua, e seu coração finalmente se acalmava.
Ele abriu a porta e foi logo tirando a gravata. Com os sapatos sujos, entrou na sala, sem ao menos reparar que a casa estava impecável.  A essa altura, o Nocturne de Chopin já não tocava mais. Ela estava no sofá, ninguém dizia nada, e o silêncio, que durou dez segundos, parecia durar uma eternidade.  Ele, talvez por pena, abriu um sorriso amarelo, tentou puxar um assunto. Ela, com o olhar perdido, respondeu com poucas palavras. Nesse momento ela se perdia em pensamentos, e pela primeira vez questionou: “Será que foi isso que eu sonhei?”
Foi quando de repente, num golpe de olhar, ao sair do torpor que aquela situação a colocara, avistou na camisa branca dele, na altura do pescoço, uma mancha cor de carmim, era um beijo. Nesse momento, uma lágrima quase imperceptível caiu de seus olhos, sem que ele pudesse perceber. Aquele que estava a sua frente fora um dia seu príncipe, seu rei e agora já não tinha mais esta certeza. Ela então sorriu sem graça, nada aconteceu, apenas levantou do sofá e seguiu até a cozinha, para servir o jantar tardio.
Serviu a refeição a ele, e, enquanto isso, ela tomou mais uma xícara do chá que houvera feito. Ele comia em silêncio e ela o olhava. Aquele borrão de batom, que antes a fizera chorar agora já não a incomodava tanto, apenas pensava no que deveria usar quando fosse lavar a roupa, para tirar aquela mancha. Ela esperava ao menos um elogio, a comida está boa... Mas ele deu duas garfadas e logo disse estar sem fome.
Saíram da cozinha e foram em direção a sala novamente. Ele parecia estar exausto. Sentou no sofá, ligou a televisão e logo pegou no sono. Ela o olhava, naquele sono profundo... Olhava e tinha a certeza que ele não estava mais ali. Era apenas um corpo cansado a se recuperar de “um longo dia de trabalho”. Ela então ali ficou, ninguém sabe por quanto tempo. Ainda sentia um enorme carinho por ele, mas naquele momento teve a certeza que era só isso. Quando caiu em si do que estava a pensar, levantou-se sorrateiramente e foi até a cozinha, pois ainda tinha a louça do jantar na pia para lavar...